Este texto foi enviado para publicação no livro resultante do V SEAD - Seminário em Análise de Discurso, ocorrido em Porto Alegre - RS, na UFRGS, em setembro de 2011. Está no prelo.
Discursividade
online
Solange Leda Gallo – PPGCL/UNISUL
solange.gallo@unisul.br
Resumo
Tematizarei aqui o efeito
de sentido que estou tratando como online,
por oposição ao que se conhecia como “ao vivo”, outro efeito de sentido produzido
pela mídia. Nesta perspectiva podemos compreender o online como uma das discursividades específicas da rede internet.
Palavras-chave: Discursividade online; Efeito-autor; Internet.
Introdução
Em um trabalho anterior
(Gallo, 2011), desenvolvi uma análise da qual depreendi dois tipos de condições
de produção de textos da internet: condições constitutivas de acontecimentos enunciativos,
e constitutivas de acontecimentos discursivos. As primeiras, por estarem
sustentadas por memórias institucionais (escolas, igrejas, empresas, bancos,
etc) permitem que os enunciados sejam apenas temporalizados de forma
específica, na rede internet, mantendo seu caminho de interpretação garantido
pela mesma memória[1].
Já as
do segundo tipo, correspondem a condições que eu designei como sendo “mais
próprios da internet”, que estão na base de sites como orkut, facebook, youtube, google, twitter, skype, entre outros, considerando
que nesse caso a discursividade nasce nessas condições que são da rede
internet, e podem constituir acontecimento discursivo, na medida em
que mobilizam memórias discursivas outras, não institucionais.
O “ao vivo” e o
online
Hoje, proponho um maior aprofundamento nessa questão.
Começarei por discutir a condição comum a
todos esses materiais da internet, que é a condição de parecerem/serem/estarem online. Mobilizarei, ainda, para esse
estudo, uma análise que desenvolvi no meu doutorado, análise de emissões radiofônicas
produzidas “ao vivo”, em uma Rádio aberta, por alunos de uma escola de Paris. Para
tanto, na época, formulei as noções de “espaços cambiáveis”, além das noções de
“autenticação” e “legitimação” (Gallo, 2008). Inicialmente, considerei “autenticação” o “processo no qual o sujeito se encontra
sempre imerso, e que dá conta do movimento e da fixação desse sujeito no espaço
de cadeias significantes que não se alinham necessariamente em FDs”. Esse
processo explica a dispersão do sujeito e é da ordem do inconsciente. Há uma “ambiguidade constitutiva” no nível da
“autenticação”. Aliado a esse processo, mas funcionando de forma contraditória
a ele, há “o processo de legitimação, que
dá conta do movimento e fixação do sujeito em determinada FD”, e não
somente em uma cadeia significante.
Assim,
ao tomar uma posição na textualidade de algo transmitido “ao vivo”, o sujeito
se posiciona, atualizando, nessa tomada de posição, arquivos que podem ter sido
formulados em outras condições de produção. Esse movimento foi apontado como
sendo análogo ao da tomada de posição no discurso, de maneira geral, na medida
em que, nesse gesto, que é sempre um gesto de interpretação, o sujeito se
posiciona em uma determinada região do interdiscurso, identificando-se com
esses sentidos, tanto no nível do construído como do pré-construído, apagando sua ambiguidade
latente.
A posição-sujeito absorve as determinações
específicas e produz um efeito de sentido determinado, um efeito de
homogeneidade, silenciando/esquecendo as ambiguidades. O sujeito produz esse
apagamento através do processo de legitimação, que está na base da
textualização, e que mascara o processo de autenticação, justamente apagando
(para o sujeito) suas ambiguidades constitutivas (sem jamais consegui-lo
totalmente). Assim, há “esquecimento”, relacionado ao processo de autenticação e,
ao mesmo tempo, relacionando-se ao processo de legitimação, há memória, no
nível do sócio-histórico, que posiciona o sujeito no discurso. (Gallo 2008,
pg.68)
As noções de autenticação e legitimação foram
formuladas, então, para explicar uma produção “ao vivo”, na qual há “espaços
cambiáveis”, aqueles “furos” na textualidade por onde vaza uma marca de
enunciação. Por exemplo, a oralização do horário exato em que se está
apresentando um noticiário; lugares onde o sujeito marca sua presença,
absorvendo, nesse gesto, os sentidos ali presentes, responsabilizando-se por
eles, dando a eles unidade, ou seja, o
efeito de fim e de autoria, efeito esse relacionado, nesse caso, ao discurso
midiático (radiofônico).
Poderíamos, ainda, dizer que há aí formas de
heterogeneidade mostrada e marcada que, conforme formulada por Authier:
Essas
formas representam uma negociação com as forças centrífugas, de desagregação,
da heterogeneidade constitutiva: elas constroem no desconhecimento desta, uma
representação da enunciação que, por ser ilusória, é uma proteção necessária
para que um discurso possa ser mantido. (Authier 1990, pg. 33).
Status presente, perfil, efeito-sujeito
Passarei, agora, a refletir sobre o online
por comparação ao “ao vivo”, e esse online
tomado aqui como efeito de sentido entre interlocutores presentes no espaço da
internet, efeito esse que se espalha nesse espaço completamente dilacerado pelo
excesso, como veremos.
Começarei por observar que embora o sujeito que
está/é online coincida sempre com uma posição, ele só é efetivamente
tomado enquanto um sujeito, quando se relaciona com outra posição-sujeito.
O que é curioso, no entanto, é que nessa
discursividade online, mesmo quando o
sujeito não está se relacionando com um seu interlocutor, seu status pode estar/ser presente. Por esse
motivo, direi que trata-se, nesse caso (no caso específico do status), de um efeito-sujeito, e não de
uma posição-sujeito.
Em outras palavras, trata-se de um processo
análogo àquele descrito acima, referente a enunciados produzidos “ao vivo”. Ou
seja, aqui também os sujeitos só se constituem nos “espaço cambiáveis”, porque
somente aí há interlocução. No entanto, o efeito do que é online se espalha por todo o texto, fazendo parecer que tudo o que
está sendo apresentado, está sendo produzido online, quando na realidade
trata-se de arquivos produzidos em outras condições de produção, e ali
atualizados pela via desses “espaços cambiáveis”, que funcionam como fissuras
por onde o efeito de atualidade penetra, principalmente se o status do sujeito for “presente”.
Por exemplo, quando você entra no facebook, alguns dos seus “amigos” podem
estar efetivamente online, ou seja,
conectados ao mesmo tempo que você, o que permite que se tenha uma interlocução
instantaneamente, assim como alguns posts
vão aparecendo enquanto se está online,
o que também produz o mesmo efeito de atualidade. Porém, a maioria dos “amigos”
que postaram textos, não estão online ao
mesmo tempo, e suas postagens foram feitas em outros contextos de enunciação. Mas
na presença do seu perfil, o efeito é de que tudo o que está ali disposto está online, mesmo quando se trata de arquivos
“fechados” e determinados por outras condições de produção. Isso também
acontece nas produções “ao vivo”.
Efeito de “rede”: formas polêmicas e lúdicas
No entanto, uma primeira diferença em relação ao “ao vivo”, é que no online os “espaços cambiáveis” são muitos, são inumeráveis, e cada
um constitui um nó de uma grande teia (web)
em uma configuração rizomática.
Nesse sentido, a própria ideia de rede é
efeito de sentido dessa discursividade que estou denominando online, na medida em que ela funciona
apontando inúmeros caminhos, múltiplas possibilidades, que se apresentam
simultaneamente e que, embora não sejam realizáveis simultaneamente pelo
sujeito, que tem o limite de só poder estar em um lugar discursivo a cada
enunciação, o sentido produzido por esse sujeito é um entre inúmeras
possibilidades latentes (virtuais). Enquanto no caso do “ao vivo”, o sentido
fica contido em um movimento de ida e volta, no qual prevalece um interlocutor
(quase) exclusivo, como é próprio das formas discursivas autoritárias. Ao
contrário, nas produções online, a
reversibilidade entre os interlocutores é determinante. Dessa diferença decorrem várias outras.
Vejamos, segundo Orlandi (1983), a
reversibilidade é uma característica de formas discursivas polêmicas, o que
constitui uma diferença em relação às formas autoritárias, nas quais não há
reversibilidade entre os interlocutores, e o que se vê é um interlocutor
exclusivo. Da mesma forma, a reversibilidade entre interlocutores se dá
diferentemente nas formas lúdicas, por serem aí extremas e sem controle.
Assim, tomaremos a noção de reversibilidade
controlada para compreendermos as formas discursivas polêmicas, identificando
essas formas às formas enunciativas produzidas online. Ou seja, nesses casos, há uma reversibilidade entre os
interlocutores, diferente de um interlocutor exclusivo, como é o caso das
produções radiofônicas “ao vivo”.
Algumas Consequências
A pergunta, então, que se
coloca, diz respeito às consequências dessa reversibilidade.
A primeira delas tem relação com a questão da
autoria, ou seja, em uma produção de conhecimento, compartilhada entre
interlocutores, a função-autor é também compartilhada, e em lugar de locutor e
leitor, temos aí interlocutores autores.
No
entanto, somente estão disponíveis, a qualquer momento (online), enunciados acumulados pela memória metálica, não os
sujeitos (não todos os “amigos”, no caso do facebook).
Isso
permite formular que no online, a
relação do sujeito que navega, inscrito em uma memória discursiva, tanto pode
se dar na forma de uma interação, com um
efeito-sujeito produzido pela memória metálica; quanto pode se dar na forma de
uma interlocução, com um sujeito em uma posição discursiva, resultante de uma interpelação.
Estamos
considerando, aqui, interação e interlocução como movimentos diferentes [2]. Segundo Pêcheux “as coisas-a-saber ...são sempre tomadas em redes de memória, dando
lugar a filiações identificadoras e não a aprendizagens por interação: a
transferência não é uma interação, e as filiações históricas nas quais se
inscrevem os indivíduos não são máquinas de aprender.” (Pêcheux, 1990, p.54)
Dessa primeira consequência, decorre
imediatamente outra, a saber, ao se posicionar em uma relação sem um sujeito
interlocutor (um efeito-sujeito), a reversibilidade tem uma nova configuração,
mais própria de formas lúdicas. Por exemplo, ao digitar um enunciado para
busca, no google, virá uma resposta
do interlocutor-efeito-sujeito, dispondo inúmeros enunciados que podem
encaixar-se (ou não) à demanda do sujeito que busca, que por sua vez dará uma
resposta a esse sujeito que é, em última
instância, o programador do site. Mas essa relação de interlocução é vaga,
difusa e im-precisa. Por outro lado, as possibilidades de reversibilidade são
quase infinitas em razão da dimensão dos bancos de dados informatizados, o que
caracteriza formas lúdicas. Podemos dizer que nesse caso a identificação dos
sujeitos se dá, inclusive, com a discursividade dos jogos (games).
Temos,
no online, portanto, a injunção a
essa “memória metálica”, na qual, segundo Orlandi, que propõe o conceito, “uma formulação se transforma em várias
outras sem que se toque no domínio da constituição, onde um sentido poderia vir
a ser outro na sua historicidade. Produz-se assim uma memória achatada,
horizontal”. (Orlandi 2001, p.182).
Ou seja, essa relação
interativa relacionada a essa memória se
caracteriza pelo excesso, na medida em que os dizeres são inumeráveis e sempre
presentes; e pela seriação, uma vez que eles não se acumulam em profundidade,
mas na superfície. Também aí “não
há limites (aparentes) para “o que pode
ou deve ser dito” (Pêcheux, 1988), ao contrário, nesses espaços parece que
pode (ou deve) constar TUDO de uma
determinada série. Esse é o efeito que caracteriza essa discursividade, um dos
efeitos resultantes da articulação da
memória metálica à memória discursiva, nesse caso, em formas lúdicas.
Portanto, podemos pensar que os limites do sentido do online são dados, em boa medida, pela textualidade, ou seja, pelos
procedimentos (modo de acesso), pela forma textual (audiovisual, grafado,
oralizado, etc), pelo espaço físico (megas,
gigas, etc.); enquanto a discursividade necessária à interpretação está
sempre fora daí, articulada nas interlocuções (nós da rede).
Essa superfície digital e interativa, trabalha
articulando uma presença intercambiável (não importa quem é o sujeito que
imputa os dados, ou o sujeito que navega), com uma memória que só pode ser
recortada por duas variáveis; ou reconhecendo a demanda, e respondendo com uma
paráfrase, ou desconhecendo-a e respondendo com “nenhum resultado”. Não há aí
nem contradição, nem esquecimento[3].
Da mesma forma funciona o discurso
tecnológico materializado nesses sites que respondem, a partir de cálculos
algorítmicos, alguma coisa que produz o efeito de ser dirigido ao sujeito que
busca, seja ele quem for.
A interlocução que está na base desta rede
parece ser aquela que se dá entre o
sujeito que navega e aquele que produz as “clivagens subterrâneas.”[4]
(Pêcheux, 1994).
Essas clivagens, resultantes do gesto de
interpretação do(s) sujeito(s) que programa o software, já determina um rol de
possibilidades e de impossibilidades para o sujeito leitor/navegador.
A essa interlocução se sobrepõem todas as
outras, entre sujeitos que dialogam online.
Essas interlocuções são determinadas pelas posições desses sujeitos nas
inúmeras textualidades que funcionam na rede.
O efeito de sentido para o
sujeito que navega, é de um dizer sem fim, apenas interrupção, de
multiplicidade em vez de unidade e, ao mesmo tempo, de um poder dizer, em um
lugar discursivo que tem o efeito de legitimidade, de inscrição, para logo em
seguida desfazer-se em múltiplas trilhas e potenciais trajetórias jamais
completamente trilhadas.
Em relação ao acontecimento
discursivo
Assim, se o acontecimento discursivo é a articulação de uma atualidade e
de uma memória (Pêcheux, 1990), diremos que a discursividade online se constitui em acontecimento
discursivo em relação ao “ao vivo”, na medida em que sua atualidade, a interlocução,
encontra a memória por meio de formas polêmicas e lúdicas, e não por meio de
formas autoritárias, como é o caso do “ao vivo”. Além disso, as interlocuções
na internet são muitas e a todo momento e quase simultaneamente, enquanto no
“ao vivo” são poucos os momentos em que a interlocução realmente flui fora do
controle do discurso da mídia. Finalmente, se no “ao vivo” se produz o efeito
de autoria, unidade, fechamento e legitimidade nos chamados “espaços cambiáveis”,
no online, ao contrário, esse efeito
é tão instantâneo e recorrente que muitas vezes não chega sequer a
caracterizar-se como tal, principalmente nas redes sociais[5].
Considerações Finais
De acordo com o que vimos,
podemos dizer agora que a discursividade online
parece ter uma contradição de base. Por um lado ela produz uma
posição-sujeito-autor, que é ao mesmo tempo lugar de inscrição compartilhado e
múltiplo, e processo de legitimação instantâneo, duas condições que conjugadas,
são novas, possibilitadas pela internet.
A contradição, no entanto, se encontra no
fato de que a relação do sujeito que navega pode ser, ao mesmo tempo, de
interação com o efeito-sujeito produzido pela memória metálica, e nesse caso, o
que se produz como sentido é um reflexo de um mesmo dizer, produzido
mecanicamente, no qual não há autor construído.
Não temos ainda a dimensão das consequências
desse funcionamento. Somente podemos dizer que para o sujeito que navega, esses
funcionamentos contraditórios parecem indiscerníveis, e um efeito-sujeito pode
ser confundido como um interlocutor em uma posição-sujeito, e vice-versa.
Podemos pensar que, nesse sentido, o homem e
a máquina, na instância do simbólico, já não tem uma nítida separação. Na
discursividade online já estamos diante
de uma condição híbrida de constituição do sujeito.
O sujeito, aqui, apesar de estar em rede,
está individualizado nessa forma material. É preciso “logar-se”
individualmente, para estar online e,
imediatamente, “entrar no jogo”, ou seja, responder por um perfil, por um status.
Nessas condições, ao mesmo tempo que se trata
de um sujeito-autor, nunca antes tão abrangente e tão coletivo, se trata também
de um reflexo de si, produzido mecanicamente.
Do ponto de vista político, a posição-sujeito
na qual nos inscrevemos na discursividade online,
por um lado pode concentrar um grande poder agregador; enquanto por outro, pode
ser (a)traída/tomada por uma individualidade (enquanto sentidos autorreferentes)
sem precedentes, que desloca os sujeitos
(desse poder) permanentemente.
_________________________
Bibliografia
AUTHIER, J. (1990). “Heterogeneidade(s) Enunciativa(s)” Cadernos de
Estudos
Linguísticos, nº 19. Campinas: Unicamp.
GALLO, Solange (2008). Como o texto se produz: uma perspectiva discursiva. Blumenau: Nova
Letra.
_______ (2011). "A Internet como
Acontecimento", in: Indursky, F.; Mittmann, S; Ferreira, M.C.L.
(org.), Memória e história da/na análise do Discurso. Campinas: Mercado
de Letras.
_______ (2011). “Da Escrita à Escritoralidade: um
percurso em direção ao autor online”.
In. Rodrigues, E.; Santos, G. L.; Castello Branco, Luiza K. (org.). Análise de
Discurso no Brasil. Uma homenagem a Eni Orlandi. Campinas. Ed. RG.
GRIGOLETTO, Evandra (2011). "O Discurso nos
ambientes Virtuais de aprendizagem: entre a interação e a interlocução", in:
GRIGOLETTO, E.; DE NARDI, F.S; SCHONS, C. R. (org.), Discursos em rede: práticas de (re)produção, movimentos de resistência e
constituição da subjetividade no ciberespaço. RECIFE: Ed. Universitária- UFPE.
GUIMARÃES, Eduardo (2002). Semântica do Acontecimento. Campinas: Ed. Pontes.
ORLANDI, Eni (1983). A Linguagem e seu funcionamento. As formas do discurso. São Paulo:
Ed. Brasiliense.
_________ (2005). Discurso
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PÊCHEUX, Michel (1990). Estrutura ou Acontecimento.
Campinas: Pontes.
__________( 1999). "Papel da Memória”. In. Papel da Memória. Campinas: Ed. Pontes.
__________(1994). “Ler o arquivo hoje”. In. Gestos de Leitura. Campinas: Unicamp.
[1]
A noção de acontecimento
enunciativo enquanto “o que instala sua própria temporalidade” é de
Guimarães (2002).
[2]
Refletindo sobre os
ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), Grigoletto também aponta para uma
divergência entre interação e interlocução, entendendo “a interação, como o movimento do homem com a máquina, e a interlocução como o movimento dos/entre os
sujeitos.” (Grigoletto, 2011).
[3] O
sujeito-programador, inscrito no discurso da tecnologia, assim como o
sujeito-publicitário, produz o seu dizer para um você, que é um e todos, e ao
mesmo tempo, ninguém, como afirma Orlandi, ao analisar o enunciado publicitário
“Brasil, um país de todos”:
Esse “todos” é ambíguo, somos todos nós
brasileiros, que estamos aí evocados, ou todos em aberto? O equívoco está em
que pensamos sermos nós, povo brasileiro, em nossa igualdade social
(impossível) e na verdade somos apenas um todo indeterminado, parte do discurso
da globalização (Orlandi 2012, pg.126-127)
[4] No artigo intitulado “Ler o arquivo hoje”, Pêcheux
fala de clivagens subterrâneas como sendo “o
sistema dos gestos de leitura
subjacentes na construção do arquivo, no acesso aos documentos e na maneira de
apreendê-los, nas práticas silenciosas da leitura “espontânea”...” (Pêcheux,
1994, pg. 56-57).
[5]
Nem todos os espaços da internet tem essa mesma
característica de diluição quase total do efeito-autor. Por exemplo, nos blogs,
ou mesmo nos fóruns, o efeito-autor é bem mais forte por não serem as
interlocuções tão instantâneas e síncronas. Por outro lado, há na internet
espaços em que formas autoritárias estão presentes e impedem, igualmente, o
efeito-autor por razões opostas, ou seja, não
pelo excesso, mas pela censura, como é o caso de alguns espaços da EAD, ou de
sites institucionais.
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